Opinion

(Instituto Lepanto) – O Sínodo sobre a Sinodalidade 2021-2023 está em pleno andamento e os Católicos fiéis estão, com razão, muito preocupados com o que ele pressagia. No seu recente artigo em 1 Peter 5, Matt Gaspers, do Catholic Family News, resumiu a maior parte do problema da estrutura deste Sínodo em particular: 

Ao contrário dos sínodos anteriores, cada um dos quais foi dedicado a um tema doutrinal/pastoral específico ou à situação da Igreja numa determinada região do mundo, o foco do actual sínodo é muito mais amplo e tem a ver com a própria natureza da Igreja (o objecto da eclesiologia, um ramo particular da teologia) ao ponto de procurar mudar fundamental e permanentemente a Igreja (ou pelo menos a compreensão tradicional da sua constituição divina) e a forma como ela funciona. 

Francis Maier, na the Catholic Thing (a Coisa Católica), perguntou-se mesmo se seria sensato realizar um sínodo, postulando que existe um grande potencial de manipulação do resultado. Dado que as evidências sugerem fortemente que o resultado do Sínodo sobre a Família e Juventude já tinha sido escrito mesmo antes da conclusão do mesmo, e o aumento das atitudes pagãs que saem do Sínodo dos Bispos sobre a Região Pan-Amazónica, há muita justificação para a preocupação de que o esquema daqueles que planeiam, coordenam e trabalham no Sínodo já tenha estabelecido um caminho para um resultado pré-determinado. 

Mas como é que isso iria acontecer? Haverá indicações de um mecanismo através do qual um resultado manipulado poderia ser pré-determinado? 

Considere por um momento como agentes nocivos invadem um sistema informático seguro. Os hackers obtêm frequentemente acesso a computadores e sistemas informáticos através de alguma coisa conhecida como uma “porta das traseiras”. Uma porta das traseiras é uma fraqueza num sistema que permite que alguém passe por cima de procedimentos normais de autenticação (tais como palavras-passe), dando acesso para explorar e subverter esse sistema. As portas das traseiras ou são falhas do desenho técnico num sistema ou são injectadas num sistema a partir do exterior. Por vezes, um sistema informático é desenhado com uma porta das traseiras instalada intencionalmente. 

Estamos prestes a ilustrar que existe uma tal porta das traseiras que foi deixada aberta para os hereges e hedonistas explorarem enquanto tentam reconstruir a Igreja à imagem e semelhança do mundo. 

O chamado objectivo do Sínodo sobre a Sinodalidade é explorar todo o “sensus fidelium,” que é o sentido dos fiéis quando inclui todos os membros fiéis da Igreja. A ideia é discernir o caminho actual e futuro do processo sinodal da Igreja. Mas a abordagem utilizada pelo Sínodo para o sensus fidelium parece aplicar uma noção falsa do que ela realmente é. O sensus fidelium, devidamente entendido como o discernimento de todo o corpo de fiéis Católicos, sob a orientação do Magistério, não pode errar. A Lumen Gentium afirma claramente:  

A totalidade dos fiéis que receberam a unção do Santo, não pode enganar-se na Fé; e esta sua propriedade peculiar manifesta-se por meio do sentir sobrenatural da Fé do povo todo, quando este, «desde os Bispos até ao último dos leigos fiéis», manifesta consenso universal em matéria de Fé e costumes. Com este sentido da Fé, que se desperta e sustenta pela acção do Espírito de verdade, o Povo de Deus, sob a direcção do sagrado Magistério que fielmente acata, já não recebe a simples palavra de homens mas a verdadeira palavra de Deus. (Ênfase do próprio autor) 

Isto é importante, porque o sensus fidelium não pode ser entendido como uma mera sondagem de opinião dos baptizados. É o Espírito Santo que leva aqueles que participam inteiramente na vida da Igreja a reconhecer a verdade, com a orientação da autoridade sagrada de ensino dos bispos unidos com o Papa. Como o Papa Bento XVI declarou num discurso à Comissão Teológica Internacional, em 2012: 

Hoje, no entanto, é particularmente importante especificar os critérios que permitem distinguir entre o sensus fidelium autêntico e as suas imitações. Na realidade, ele não é uma espécie de opinião pública eclesial, e não é pensável que possa ser mencionado para contestar os ensinamentos do Magistério, uma vez que o sensus fìdei não pode desenvolver-se autenticamente no crente, a não ser na medida em que ele participa plenamente na vida da Igreja, e isto exige a adesão responsável ao seu Magistério, ao depósito da Fé. 

O Papa Bento XVI, numa audiência geral em 2010, continua a mostrar como o sensus fidelium foi instrumental na proclamação tanto do dogma da Imaculada Conceição como no da Assunção: 

Assim, quer a fé na Imaculada Conceição quer na Assunção corporal da Virgem já estava presente no Povo de Deus, mas a teologia ainda não tinha encontrado a chave para a interpretar na totalidade da doutrina da Fé. Por conseguinte, o Povo de Deus precede os teólogos e tudo isto graças àquele sensus fidei sobrenatural, ou seja, àquela capacidade infundida pelo Espírito Santo, que habita e abraça a realidade da Fé, com a humildade do coração e da mente. Neste sentido, o Povo de Deus é “magistério que precede,” e que depois deve ser aprofundado e intelectualmente acolhido pela teologia. 

Contraste este claro ensino sobre a natureza do sensus fidelium com o Vademecum, o manual oficial do Sínodo. Enquanto o Vademecum afirma com razão que a sinodalidade não pode existir sem a autoridade pastoral de cada Bispo diocesano como “autênticos guardiães, intérpretes e testemunhas da Fé da Igreja,” estabelece um mecanismo de porta das traseiras sem precedentes para dar voz àqueles que NÃO fazem especificamente parte do sensus fidelium: 

2.1 Quem pode participar? 

Por esta razão, enquanto todos os baptizados são especificamente convocados a participar no Processo Sinodal, ninguém – não importa a sua filiação religiosa – deve ser excluído de partilhar a sua perspectiva e experiências, na medida em que queira ajudar a Igreja no seu caminho sinodal de procura do que é bom e verdadeiro. Isto vale especialmente para aqueles que são mais vulneráveis ou marginalizados. 

O processo é que os baptizados realizarão sessões sob a direcção dos seus Bispos diocesanos, que depois sintetizarão estas sessões e as submeterão ao Vaticano que, então, preparará um documento para os Bispos discutirem em 2023. 

Permite-se aos hereges, cismáticos, apóstatas, não-católicos e mesmo ateus que participem; e, embora não sejam contados como parte do sensus fidelium, a sua presença não só representa uma ameaça para os membros da Fé malformados, como oferece na realidade uma porta aberta para mudanças radicais e sem precedentes. 

Este é o problema claro e óbvio com tudo isto, de que só não dá conta quem não quer. Mas há outro aspecto menos óbvio do Sínodo que apresenta uma ameaça ainda maior. 

Enquanto as portas da frente estão abertas para os inimigos da Igreja participarem no Sínodo a céu aberto, um exame do Documento Preparatório do Sínodo e do Vademecum revela uma obscura porta das traseiras que abre o caminho para os participantes passarem completamente por cima dos Bispos. 

Tanto o Documento Preparatório como o Vademecum declaram que os indivíduos “que não podem participar a nível local” podem submeter directamente contribuições à Secretaria-geral do Sínodo dos Bispos. 

As comunidades religiosas, movimentos laicais, associações de fiéis e outros grupos eclesiais são encorajados a participar no Processo Sinodal no contexto das Igrejas locais. No entanto, têm a possibilidade de, tal como qualquer grupo ou indivíduo que não tenha oportunidade de o fazer a nível local, enviar os seus contributos directamente para a Secretaria-geral do Sínodo dos Bispos, como se afirma na Episcopalis Communio (art.º 6 sobre a Consulta do Povo de Deus) 

No contexto, esta disposição parece dirigir-se aos membros das Ordens Religiosas. Contudo, aplicando uma interpretação ampla a “qualquer grupo ou indivíduo” incapaz de participar a nível local, Thierry Bonaventura, gestor de Comunicação da Secretaria-geral, estendeu esse convite a organizações hereges, quando pediu desculpa ao Ministério Novos Caminhos por ter removido um recurso publicado no site oficial de recursos do Sínodo. Bonaventura restabeleceu o Ministério Novos Caminhos e disse: 

Certamente, os grupos LGBTQ e aqueles grupos que sentem que vivem à ‘margem’ da Igreja podem dirigir as suas contribuições, recursos, ou aquilo que querem partilhar com todo o povo de Deus para [email protected] 

Várias organizações heréticas desde então publicaram submissões à página web de recursos do Sínodo, incluindo a Conferência de Ordenação das Mulheres (WOC) e a Associação dos Sacerdotes Católicos dos EUA (AUSCP). Uma coisa em comum com estes grupos é a ênfase na apresentação de respostas directamente à Secretaria-geral, em vez de passarem pelo processo diocesano estabelecido. 

A WOC declara directamente no seu Sínodo Toolkit que a razão para “submissões independentes” é expressamente para evitar “interferência” por parte dos Bispos: 

Sabemos que o processo de consulta delineado pelos documentos sinodais deixa em aberto a forte possibilidade de as vozes feministas, ou vozes que desafiam o actual ensino da Igreja, ficarem de fora dos documentos que são produzidos por cada diocese. Em última análise, os Bispos têm a última palavra sobre o que avança para as próximas fases do processo sinodal. Por conseguinte, estamos a criar um mecanismo independente para que partilhe a sua contribuição honesta, com a promessa de que partilharemos, sem censura, os pontos de vista que forem expressos. (Não associaremos o nome de ninguém a um determinado sentimento.) Quer participe ou não numa sessão de escuta local, encorajamo-lo a utilizar o formulário para partilhar os seus pensamentos. Acreditamos ser vital ter um registo independente do que os Católicos estão a pensar, sem interferência dos Bispos. [ênfase acrescentada]

A AUSCP está a juntar-se a uma organização que afirma ser o Comité Católico do Sul (não conseguimos encontrar qualquer registo de que esta organização é uma verdadeira entidade, porque faliu há muitos anos) para gerir um programa sinodal para católicos “marginalizados” chamado “The Gathering: Toward a Synodal Church” (O Encontro: Rumo a uma Igreja Sinodal). 

Num comunicado de imprensa “conjunto,” a coordenadora do projecto Cathy Harmon-Christian declarou: “Partilharemos o que recebemos com os Bispos locais, se eles nos quiserem ouvir, e levá-los-emos ao Dicastério em Roma.” 

A AUSCP também publicou um vídeo (também disponível na página de recursos do Sínodo) descrevendo o seu processo sinodal, perguntando “Se está a facilitar como parte do Projecto CCS-AUSCP, por favor envie-me as suas notas para [email protected].”  Essas notas devem ser compiladas e enviadas à Secretaria-geral, como é indicado no comunicado de imprensa do AUSCP.

Da mesma forma, o Ministério Novos Caminhos está a sediar uma série de “Conversas Espirituais LGBTQ para o Sínodo” onde “os frutos destas conversas são captados por um anotador e enviados ao Gabinete do Sínodo para serem incluídos no processo sinodal mais amplo.” 

Outra organização herética que promove regularmente a ordenação das mulheres e a homossexualidade é a Future Church (Igreja do futuro). Tal como as organizações precedentes, a Igreja do Futuro está também a explorar o convite aberto para contornar os Bispos no processo sinodal, enviando as suas informações directamente para Roma. Na página web da Igreja do Futuro dedicada ao Sínodo de 2023, a Igreja do Futuro identifica especificamente “novas inovações” no processo sinodal, o que lhe permitiria esperar que o seu plano para mudanças radicais na Igreja pudesse finalmente realizar-se. 

Diz a Igreja do Futuro: 

E devido a novas inovações no processo, o Papa Francisco deixou claro que quer ouvir todos os Católicos que entram no processo de boa fé. Assim, mesmo nos casos em que os Bispos estão a ignorar ou a diminuir o potencial para a viagem sinodal, os Católicos são encorajados a reunir-se de outras formas e deixar os nossos líderes saber o que vemos, ouvimos, experimentamos e esperamos como Católicos. O objectivo é discernir o futuro da Igreja com os Católicos leigos e ordenados, independentemente da sua relação a uma paróquia. 

 

Enquanto discutimos e discernimos em conjunto, pediremos a cada participante que preencha um inquérito que permita a cada pessoa transmitir as suas ideias mais convincentes para o nosso relatório final. Após a conclusão das sessões, compilaremos o relatório final entre a Páscoa e o Pentecostes e enviaremos esse relatório para Roma (copiando os nossos Bispos e o Núncio Papal) no Espírito de Pentecostes. 

Outras organizações dissidentes que tentam utilizar o canal oficial de recursos do Sínodo incluem a Discerning Deacons (Diáconos a discernir) e a Latin American Rainbow Catholic Community (Comunidade Católica Arco-íris da América Latina). 

Este Sínodo em particular está repleto de problemas, mas a maior oportunidade de manipulação vem pela porta das traseiras que acabámos de descobrir. 

A oportunidade para as organizações heréticas passarem por cima dos Bispos enviando inquéritos e preocupações directamente à Secretaria-geral do Sínodo já está a ser explorada pelas organizações que acabámos de mencionar. O perigo, claro e presente, é a criação de um sínodo paralelo de hereges que consagra ideologias perversas sob uma noção pervertida do sensus fidelium. 

Quer o resultado seja ou não pré-determinado, a porta das traseiras aberta aos hereges é explorada, e os sequestradores implementam reformas baseadas num “Espírito do Sínodo,” este não é um momento para os fiéis Católicos entrarem em pânico ou serem temerosos. Este é, sim, um tempo de oração e jejum, uma vez que a Santa Madre Igreja está a ser submetida a um terrível castigo. 

Está a ser caluniada por homens perversos que falam em Seu nome, enquanto os demoníacos zombadores dançam em torno daqueles que permanecem fiéis aos Seus ensinamentos imutáveis e universais. À medida que a Quaresma se aproxima, consideremos todos a gravidade da situação e as orações e os sacrifícios necessários para o ressurgimento da verdadeira glória da Igreja. Os ímpios tornaram-se ousados, por verem que a sua hora se aproxima…e demos também graças a Deus Todo-Poderoso, por lhes ser dada APENAS uma só hora.  

Reimpresso com a autorização do Lepanto Institute

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